O Meu Pé de Laranja Lima-1980
O Meu Pé de Laranja Lima foi a segunda adaptação do romance Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, para telenovela, com texto de Ivani Ribeiro e direção de Edson Braga. Foi produzida pela Rede Bandeirantes e exibida de setembro de 1980 a abril de 1981.
Esta versão era uma regravação da telenovela produzida pela extinta Rede Tupi
dez anos antes. Teve menos capítulos e alcançou audiência considerável.
A emissora reapresentou a telenovela em diversas ocasiões, nos mais
variados horários.
Dante Rui & Baby Garroux(Caetano e Jandira)
Sinopse
Mostra a vida do pequeno Zezé, um menino pobre que conversa com o pé de laranja-lima e estabelece uma bonita amizade com o velho português Manuel Valadares, o "Portuga", um solitário.
- Baby Garroux .... (Jandira) e Fausto Rocha .... (Raul)
Elenco
- Alexandre Raymundo .... Zezé
- Dionísio Azevedo .... Manuel Valadares (Portuga)
- Rogério Márcico .... Paulo
- Lucélia Machiavelli .... Estefânia
- Baby Garroux .... Jandira
- Fausto Rocha .... Raul
- Cristina Mullins .... Glória (Godoia)
- Lourdes Bicudo .... Lili
- Ivan Lima .... Raul
- Valdir Fernandes .... Henrique
- Dante Rui .... Caetano
- Regina Braga .... Cecília
- Almir das Areias .... Ariovaldo
- Neuza Borges .... Eugênia
- Geny Prado .... Donana
- Sergio Ropperto .... Gabriel Garcia
- Luzia Carmelo .... Santinha
- Jefferson Ricart Pezeta .... Sabugo
- Terezinha Cubana .... Gilda
- Ulisses Bezerra .... Totoca
- Davis Carvalho .... Luisinho
- Eduardo Silva .... Juvenal
- Robien Madrilles Jr .... Vava
- Sergio Ribeiro Ferreira .... Serginho
- Mirka Rubia Sato .... Badu
- Fabio Rodrigues .... Seu Aristides
- Vera Nunes .... Leonor Oliveira
- Wilma De Aguiar .... Madre Celeste
- Henrique Lobo .... a voz do pé de laranja-lima
- Maria Ferreira .... Helena (1)
- Ivanice Silva .... Helena (2)
- Elias Gleizer .... Padre Rosendo
- Ênio Gonçalves ....Comendador Vicente Del Nero
- Paulo Leite .... Santana
- Homero Kossac .... Arcebispo
- Leonardo Camilo .... Diogo
- José Luiz Di Santi .... Dr. Ricardo
Poderíamos dizer que as agruras de Zezé obtêm tanto sucesso pelo atavismo com o espírito nacional, acima de qualquer crítica ou racionalização. Mas a verdade é que a obra foi traduzida para dezenas de idiomas -- até em quadrinhos na Coréia -- e mantem fôlego intacto, quem sabe esperando nova releitura cinematográfica, além das três -- duas na Tv Bandeirantes, uma na Tupi -- que recebeu em formato de telenovela.
ResponderExcluirNa sua psicose tão brasileira, amigo de árvore, nas picuinhas paroquiais de família, na saudade de uma inocência que morre na última cena, José Mauro de Vasconcelos fez-se personagem universal. Aurélio Teixeira, apesar de sempre filmar com habilidade e elegância, não extrai de todo as capacidades do livro. Imita certo ar de Emilio Fernández, de fatalismo mexicano, sem conseguir o resultado esperado. Faria melhor, no ano seguinte, com "Soninha Toda Pura".
ResponderExcluirNão é minha intenção, nem de longe, querer estragar a infância de ninguém, mas "Meu Pé de Laranja Lima" (1970), tanto o livro de José Mauro de Vasconcelos, quanto as adaptações para cinema e teledramaturgia, sempre me pareceu um conto fantástico sobre esquizofrenia infantil.
ResponderExcluirInadaptado, crítico ao extremo, ouvindo conselhos de uma árvore, é fácil encontrarmos a vinheta do menino Zezé em algum compêndio de psiquiatria. Principalmente aqueles antigos, dos anos 1950, quando o didatismo extremo se misturava à falta de atenuantes.
ResponderExcluirO filme de Aurélio Teixeira, realizado imediatamente após o lançamento do livro, de 68, revelou-se ainda mais onírico, abraçando sem medo uma atmosfera de infância profunda. Mecanismo semelhante, de trabalhar as sombras dos primeiros anos, pôde ser visto no recente e excepcional "Eu Me Lembro" (2006), de Edgar Navarro. Ou até no supervalorizado "O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias", de Cao Hamburguer. Entretanto o que assusta em "Meu Pé de Laranja Lima" é a retórica espúria, psicologizante: um menino em Bangu, zona oeste do Rio de Janeiro, que não via santos nem admirava pirilampos. Patético, conversava com uma árvore.
O escritor, crítico e jornalista Assis Brasil, elucidando a obra de outra grande escritora brasileira esquecida, Maura Lopes Cançado -- autora de "Hospício é Deus" -- afirmou, certa vez, que a matéria-prima do escritor brasileiro são "draminhas domésticos e ligeiras crises passionais", opondo Maura -- e seu drama real -- a esta futilidade. Tal condicionamento pode ser percebido também na autobiografia de Vasconcelos; um drama mínimo, elevado a amplo retrato da sociedade e do meio.
Bangu -- região fabril carioca, dos lugares mais quentes do planeta -- foi substituída nas filmagens pela aprazível cidade de Vassouras, nas lonjuras da serra fluminense. Zezé (Júlio César Cruz), o menino, é filho daquele país educado e civilizado de outrora. Pobre ao extremo, duela entre o respeito e a traquinagem com os adultos.
É um menino "bom", o juízo de Aurélio Teixeira deixa claro. E o adjetivo "bom" aqui não carregava qualquer relativização moral ou idiossincrasia social. Ser bom nada mais era -- à velha maneira cristã e latina -- reservar um olhar piedoso e tolerante ao próximo.
"Bom", Zezé cuida do irmãozinho mais novo, trabalha para comprar cigarros para o pai desempregado e, em acessos de culpa, julga-se ainda um menino "mau", naquele microcosmo sufocante. Nietzsche chamaria Zezé de besta quadrada, mas a história insiste em mostrá-lo com a sensação de responsabilidade nos mínimos erros, nos mínimos escorregões infantis.
Culpado daquilo que não podia controlar, mártir da covardia alheia, eis que surge o pé de laranja lima para tranquilizá-lo. Junto com ele, o amigo Portuga (o próprio Aurélio Teixeira), e a professora (Maria Gladys), que se emociona por Zezé abrir mão de um doce para outra aluna, ainda mais pobre que ele. Diálogos escritos por Aurélio e pelo jovem Braz Chediak, canções de Francisco Alves -- o eterno Chico Viola -- trilha-sonora de Edino Krieger e lágrimas em profusão, terminam por transformar o rocambole em um intenso melodrama.
A quadrilogia autobiográfica de José Mauro de Vasconcelos é bem mais sóbria: "Vamos Aquecer o Sol", de 1974, sobre a mudança para Natal, Rio Grande do Norte; "O Doidão", de 1963, sobre sua adolescência; e "Confissões do Frei Abóbora" -- este adaptado ao cinema por Chediak -- 1966, sobre a vida adulta. Curioso que, além de escritor, José Mauro foi também modelo, esculpido por Bruno Giorgi no Palácio Gustavo Capanema, antiga sede do Mec, no Rio.